EDIÇÃO ESPECIAL DO CANTINHO: AUGUSTO PESSÔA- CONTADOR DE HISTÓRIAS.

Lembro quando você me levava para todos os lugares, quando dormia abraçado comigo e me exibia para todos os colegas. Eu era o seu preferido. Parece que foi ontem que enfrentamos dragões, derrotamos um exército de gigantes, escalamos a montanha mais alta de um Reino Esquecido e salvamos a princesa presa por uma bruxa má.
Depois eu deixei de ser novidade. Você ganhou outros iguais a mim e eu fui esquecido no fundo de um baú. Agora, você cresceu. E arrumando suas coisas me encontrou.
Com lágrimas em seus olhos teve uma ideia. À noite, quando voltou do trabalho, encontrou seu filho pronto para dormir e lhe entregou um presente. Com os olhos brilhando de excitação, ele abre o embrulho e olha para mim: um Contador de Histórias!!!

"Ler uma história com o objetivo de contá-la é um exercício de costurar sonhos, de misturar emoções, é uma brincadeira de dar significado às palavras, um quebra-cabeça de desvendar nas ilustrações aquilo que as palavras não conseguiram traduzir, e mais ainda, transformar em gestos e expressões aquilo que extrapola e transcende o mero articular de palavras" (Rodrigues: 2003- http://trupefriburgo.blogspot.com.br/2008/12/ler-uma-histria-com-o-objetivo-de-cont.html)

É com muita emoção que o Cantinho recebe como parceiro Augusto Pessôa, o Contador de Histórias!!!!!!!



Ator, Cenógrafo, Figurinista, Arte Educador Dramaturgo e Contador de Histórias. Bacharelado em Artes Cênicas (Habilitação em Interpretação e Habilitação em Cenografia) pela UNI-RIO - Universidade do Rio de Janeiro.


Um profissional respeitado e reconhecido em seu meio, Augusto também já  publicou várias obras, confiram:






 




Para conhecer um pouco mais sobre ele, leiam a entrevista que ele fez para o Cantinho e visitem:
 


ENTREVISTA COM AUGUSTO PESSÔA:



1) Para minha surpresa descobri que você é um contador de histórias de verdade!!! Em que momento da sua vida, surgiu a vontade de contar histórias? Seus pais incentivaram a leitura na sua infância?

Augusto: Meus pais são leitores e sempre incentivaram o hábito da leitura. Meu pai sempre manteve em casa uma biblioteca e tínhamos acesso a ela. Meus pais conversavam sobre personagens da literatura como se falassem de pessoas da família. E ainda brincávamos de Capitão Rodrigo, de Bar do Nacib e por aí vai. Minha formação é em Teatro. Fiz duas formações na UNI RIO (interpretação e cenografia). A contação de histórias surgiu na minha vida de uma forma curiosa: tinha um grupo de teatro formado por amigos e decidimos montar um texto de João do Rio chamado “O Homem da Cabeça de Papelão”. Não é um texto teatral. É um conto. Estávamos em reuniões para ver qual seria a melhor maneira de levar o conto para o palco, quando uma amiga chegou com a notícia de uma oficina de Contadores de Histórias que aconteceria na Casa da Leitura em Laranjeiras (RJ). Ela achava que seria interessante algumas pessoas do grupo participarem da oficina pois isso poderia ajudar na nossa peça. Todos concordaram, menos eu. E isso é muito interessante. A vida nos dá caminhos que a gente não sabe direito se segue ou não. Fui contra a oficina, mas só eu e a amiga que trouxe a notícia é que tínhamos agenda para participar. Resumo da ópera: A peça não saiu, o grupo se desfez e eu estou trabalhando com contação de histórias até hoje.

2) O que é necessário para se tornar um “Contador de Histórias”? Conte um pouco sobre a sua experiência, sobre as dificuldades que enfrentou, sobre como foi no início.

Augusto: Todo ser humano é um contador de histórias. Contamos histórias quase diariamente. Narramos um filme que gostamos, uma situação que aconteceu na rua que chamou a nossa atenção, um caso que aconteceu com um amigo ou parente... enfim... contamos aquilo que nos motiva. E essa (eu acho) é a grande sacada: você deve contar aquilo que te emociona. Nas oficinas escuta muito vezes as pessoas ansiosas achando que vão “aprender” a contar histórias. As oficinas não são para isso. Elas são um estimulo para a redescoberta desse contador de histórias que está em cada um de nós. Isso sempre fez parte do meu trabalho de contador: eu conto aquilo que eu gosto.
Tive duas dificuldades no início desse trabalho: como minha formação é em teatro achava que devia “interpretar”. O ator cria personagens e é essa a diferença para o contador. O contador narra. Não interpreta. Ele pode até criar um personagem, uma voz, mas a sua essência é a narração. É uma linha tênue, mas que faz toda a diferença. Outra dificuldade foi a minha imensa timidez. Tão grande que não conseguia contar histórias em pé. Só sentado. Era como se estivesse protegido quando sentado. Mas isso passou.

3) Como você vê a receptividade das crianças? Quando lidamos com elas, temos que estar preparados para o imprevisível. Tem alguma história engraçada que aconteceu com você para nos contar?

Augusto: a criança é o crítico mais terrível que existe (rs). Ela demonstra imediatamente se não está satisfeita com o que está sendo feito. Dispersa. Vai procurar algo mais interessante. Por outro lado se ela gosta, quer participar de forma intensa. Conseguir esse meio termo entre cativar e ao mesmo tempo segurar essa participação tão intensa é a chave. Tenho tido a sorte de manter as crianças atentas e participativas na medida certa. Uma história engraçada aconteceu esse ano no Festival de Contadores de Histórias do CCBB (RJ). Um menino, sentado no chão perto de mim, ria tanto e de uma forma tão especial da história que eu contava que tive que fazer um grande esforço de concentração para não cair na gargalhada. No final da história soltei uma grande gargalhada.

4) O universo do contador de histórias está ligado a divulgação do folclore regional, através de músicas e histórias populares. Como é feita a escolha do seu repertório? As pessoas pedem alguma história específica, ou você tem uma lista com a qual você trabalha? Existe alguma história que é mais pedida do que as outras? Você tem alguma história preferida? Você trabalha com fantoches?

Augusto: O universo do contador está ligado a cultura popular. Não só de uma região, mas de uma forma global. Através das narrativas, vários povos puderam perpetuar suas tradições por gerações. O contador de histórias traz consigo a memória de seu povo e a possibilidade de se pensar o mundo e a vida. O repertório é fundamental. É uma escolha muito pessoal de acordo com seus gostos e com sua história de vida. Dessa forma escolho o meu repertório. Tenho uma lista de histórias com que trabalho e vou acrescentado mais nas minhas pesquisas. Não tenho uma história predileta. Guardo com carinho e na memória todas as minhas histórias.
No ato de contar histórias a utilização de imagens, figuras, desenhos e objetos (bonecos, máscaras, etc) podem tornar o trabalho mais rico. Mas devemos tomar o cuidado de não utilizar esses mesmos elementos para facilitar a compreensão da narrativa. Eles podem servir para dar mais brilho a uma apresentação, mas não devem ser considerados fundamentais. O quê tem que ser importante é o texto, a palavra. Esses elementos devem ajudar o ouvinte na sua viagem pela imaginação. Nunca devem ser limitadores, ou seja, elementos que levem o ouvinte a massificar a sua criação. Cada ouvinte deve construir a sua própria imagem, ou ter a possibilidade de “viajar” nas imagens e objetos apresentados. E o contador tem que saber manusear bem os elementos que possivelmente vai utilizar. Fazer uso de elementos simples é uma boa dica para quem não tem intimidade no manuseio de objetos. Muitas vezes, quando não há essa intimidade com o que vai ser manuseado, o narrador pode ficar perdido sem saber se conta ou se mexe com os elementos. O contador deve ter um conhecimento prévio do que vai fazer. Já trabalhei com fantoches, mas hoje tento simplificar cada vez mais o meu trabalho. Uso algumas vezes objetos simples, mas na maioria das vezes uso só a palavra.

5) Você também é formado em Artes Cênicas. Descobri através do seu blog, que junto com um grupo, você montou o Barangandão Companhia Artística, que realiza peças teatrais, contação de histórias e oficinas de arte. Como nasceu a Companhia? Quem trabalha com você?

Augusto: A BARANGANDÃO surgiu da necessidade de trabalhar profissionalmente. Não é uma companhia. É uma empresa onde eu e meu sócio realizamos projetos. E esses projetos podem ser realizados em dupla ou individualmente. E geralmente trabalho com amigos.

6) Nos fale um pouco da contação de histórias, pois antes era só você, agora é um grupo. O que mudou com uma estrutura maior?

Augusto: Não existe estrutura maior. Continuo trabalhando sozinho. Algumas vezes, juntamos alguns amigos para realização de um trabalho específico. Mas isso não é constante.

7) Quais são seus novos projetos no teatro?

Augusto: Tenho vários (rs). Para você ter uma ideia, tenho quase vinte projetos (entre textos meus, em dupla com amigos e de autores consagrados) circulando para conseguir apoio ou patrocínio. Essa é a parte mais difícil: conseguir recursos para montar os projetos. Quero muito montar um infantil. O último que montei (A MOURA TORTA) foi em 2010. Em 2011, 2012 e 2013 tenho realizado espetáculos adultos ou juvenis. Tenho saudades de trabalhar com o público infantil.

8) Estou encantada com as oficinas de arte!!! É um projeto pessoal, ou você ministra junto com a Companhia? Fale um pouco sobre esse trabalho. A que mais me chamou atenção, foi a Oficina de Construção de Brinquedos, fale um pouco sobre ela também.

Augusto: Realizo oficinas há muito tempo pelo Brasil todo. É um trabalho que me fascina bastante. Mas é um trabalho individual. Como já disse não somos uma companhia. A oficina é um espaço de experimentação. E isso é o mais fascinante. O individuo tem a possibilidade de viver situações que podem ajudá-lo a compreender melhor muitas questões.

Quanto à oficina de brinquedos: A função lúdica do brinquedo artesanal é muito grande – trabalhando a criatividade e a imaginação. As crianças, ao estabelecerem contato com esses brinquedos, têm a oportunidade de vivenciar desde cedo a sabedoria popular. Nesse processo, a criança enquanto indivíduo poderá vir, desde já, a assimilar uma consciência crítica sobre o mundo. Trabalhar com brinquedos populares possibilita uma utilização ampla do material existente em nosso meio ambiente, possibilitando assim alternativas para a confecção de inúmeros outros brinquedos. A oficina tem por objetivo resgatar brinquedos populares que são desconhecidos ou até foram esquecidos por nossas crianças. Muitas vezes os pais e educadores não repassam esses brinquedos por não perceberem sua importância. Os brinquedos populares revelam não só o lado lúdico, mas recuperam a identidade de uma nação.  Um prazer para crianças e adultos.

9) E como não poderia faltar, você é escritor. Como isso aconteceu? Acredita que foi um processo natural, uma vez que já contava histórias? O fato de já ser um contador de histórias facilitou a aceitação dos livros pelas editoras?

Augusto: Nunca tinha me imaginado com escritor. O escritor veio com o contador de histórias. O primeiro livro que publiquei foi FELIZES PARA SEMPRE. Foi um convite da editora Rocco que criou uma serie de livros com narrativas de contadores de histórias. E depois vieram os outros...

10) Você está lançando um livro novo chamado “Macacada”, publicado pela Editora Escrita Fina. Por que um macaco? Qual a mensagem que o livro quer passar? Fale um pouco sobre ele.

Augusto: O macaco é um personagem muito interessante na cultura popular. Ele representa o povo. É o mais fraco que vence os poderosos pela esperteza e inteligência. Assim como o Malasartes e o João Grilo que aparentemente são fracos e incapazes, mas que conseguem seus objetivos através da astúcia. Como é dito na cultura popular: “a inteligência é a coragem do pobre”.
Esse livro está me dando muitas alegrias. As ilustrações foram feitas com papel recortado. Aliás, o trabalho de ilustrador veio tb com o contador de histórias.

11) Agora vamos abrir espaço para sua agenda: informe os eventos dos quais irá participar para divulgação do novo livro e do seu trabalho em geral.
Augusto: O livro Macacada já foi lançado esse mês com uma deliciosa tarde de autógrafos na Livraria Cultura. Mas devemos ter outro lançamento na Bienal.
Falando em Bienal, vai estrear um espetáculo com roteiro, figurino e adereços idealizados por mim para o evento. O texto é baseado em personagens do Ziraldo que é o homenageado desse ano.
Em agosto estarei lançando mais um livro: A Rã e o Boi pela editora ZIT com texto e ilustrações minhas.
E ainda, no dia 31 de agosto às 15 horas terá uma apresentação de contação de histórias na Cidade das Artes.

12) Do que você viu da vida, de todos os lugares que conheceu, das pessoas que compartilharam momentos com você, qual a mensagem que gostaria de deixar aqui, no blog do “Cantinho para Leitura”?

Augusto: A vida é boa. Leia nas entrelinhas...


O Cantinho gostaria de agradecer Augusto Pessôa pela generosidade em nos contar um pouquinho de sua história, nos presenteando com esse belo trabalho que vem desenvolvendo.

E, como não poderia faltar, o Cantinho agradece também Jaycia, uma amiga querida e Madrinha do Cantinho, que nos apresentou o Augusto e tornou essa parceria possível.

 

 E não percam seu mais novo lançamento publicado pela Editora Escrita Fina: Macacada!!!



 





Imagens e informações obtidas nos sites:

4 comentários

  1. Adorei o post e a entrevista e mais ainda de conhecer esse profissional tão empenhado em ganhar os pequenos para a literatura.

    Parabéns ao Augusto pelo excelente trabalho e a ao blog pelo post!!

    bjsss

    Bianca

    http://www.apaixonadasporlivros.com.br/

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  2. Oi Bia,
    tudo bem?
    Eu também adorei conhecer o trabalho dele!!! É bom saber que ainda existem projetos como esses para incentivar a leitura e a criatividade das crianças.
    Parabéns para o Augusto!!!!!
    Obrigada pelo carinho de sempre.
    Beijos.
    Cila- Leitora Voraz.

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  3. Muito interessante! Agora vou fuxicar alguns trabalhos do Augusto e quem sabe explorar as obras e as atividades que ele pode oferecer.
    Este CANTINHO tá um sucesso!

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  4. Oi Lili,
    tudo bem?
    Que bom que gostou. Tenho certeza que seu filho irá adorá-lo!!! O trabalho que o Augusto desenvolve é dez!!!!
    Obrigada pelo carinho de sempre.
    beijos.
    Cila- Leitora Voraz.

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